Eyele

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Ifá Espirito Santo Liberdade

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

BAPHOMET


BAPHOMET

TEM.´.OHP.´.AB, Baphomet é um acróstico ou sentença iniciática que significa
O Pai do Templo, a Paz de todos os Homens ou TEMPLI OMNIUM HOMINUM
PACIS ABBAS.

Descrição Analítica - Parte 1

Entre os cornos de Baphomet vemos a tocha, porque ele é
o Dadouches, o principal iniciador de Eleusis, o portador da tocha, o
Phosphoros Grego, aquele que trás a luz da Iniciação, associado a Prometeu,
que furtou de Zeus o fogo sagrado (DCJCK), e deu-o aos homens. Para os
romanos ele é LVCIFER, aquele que trás a luz. Note-se que tais significações
estão no seu sentido original, i. e., não maculadas pelo sentido cristão.
Como portador da luz, representada pelo fogo, teremos
que nos focar nas significações deste elemento, uma vez que a tocha existe em
função do fogo. É também o chakra Sahasrara, o lótus de mil pétalas.




CAPUT (Cabeça)


Quem trouxe o fogo aos homens foi Prometeu, segundo o registro de Heródoto em “Os Trabalhos e os Dias”. Tal episódio reproduz com outra simbologia a passagem do Atharva Veda, 12, 2, que proclama: “O Deus Agni escalou os cimos celestiais/ e ao liberar-se do pecado/ ele nos libertou da maldição”. Assim teremos uma semelhança entre Agni e Prometeu, ambos como seres benfazejos ao homem. Agni (raiz etimológica de Ignis = fogo eml atim, veja também que “puro” e “fogo” tem a mesma palavra no sânscrito) é apenas um aspecto do fogo, pois há no hinduismo, três espécies: primeiro Agni, o fogo em si-mesmo, o segundo Indra,o raio e o terceiro Surya, o fogo como Sol, portanto, estes são os arquétipos do fogo terrestre, intermédio e celestial. Seja qual for o aspecto, o fogo (Pyr em persa, πυρ em grego), guarda estreitas relações com os ritos de regeneração e purificação (note aqui a raiz etimológica), portanto, de Iniciação.

Assim a tocha de Baphomet acende o Athanor filosófico, o cadinho onde é gestada a pedra filosofal que será triturada para produzir o Elixir da Imortalidade (Amrita ou Soma). O Athanor assim encontra-se no coração, pois este é o centro do Manipura-chakra, cujo símbolo é triangulo ígneo, segundo os Upanichads. O sistema de chakras também é encontrado no tantrismo tibetano, que consideram apenas cinco centros de força sutil, e que também associa o fogo ao coração. Além disso, o coração é a morada do espírito (Jacob Boheme), e relacionando-se com o espírito e fogo chegaremos ao Espírito Santo, que se manifesta no cristianismo como línguas de fogo no pentecostes. O Logos manifesto. Note que o Espírito Santo é relacionado ao sêmem, pois no BAHIR (Cabala) é dito que o sêmen provêm do cérebro e caminha pela espinha até o falo, este também um símbolo cognato (φαλοσ é um cognato de πιραµισ onde ocorriam iniciações).

No judaísmo, as ofertas ao Tetragrammaton eram queimadas, pelo que nos explica Abu Ya’qub Sejestani, o fogo eleva as coisas ao estado sutil (espiritual) pela combustão do invólucro grosseiro, assim tanto se presta a trazer aos homens o Logos, quanto a levar aos deuses a essência. Vejamos também como tal o sentido dos ritos fúnebres, a cremação dos corpos entre os gregos e os hindus tem o mesmo significado, pois o fogo é não apenas um elemento purificador ou regenerador, mas também seu toque assegura a passagem de um estado a outro. Ainda, o fogo da tocha de Baphomet é o fogo que consome, o fogo devorador, o αγαπε, um dos três aspectos do Amor, segundo Platão (εροσ e φιλοσ são os outros dois), e justamente o aspecto cósmico do amor, e não apenas o sexual (εροτοσ) ou o moral (φιλια). O αγαπε é o amor que leva o Adepto ao auto-sacrifício espiritual, simbolizado pelo ARCANO XII do TARO.

Por fim, sendo o fogo um símbolo do intelecto ou logos, ou de Tipheret para os qabalistas, o sentido pleno só pode ser compreendido em relação aos dois chifres, formando assim um ternário, como nos desvelou E. Lévi. Sem o a tocha, os chifres significam a díada, o dois, o número que, tomado em si mesmo, é a dualidade, o mal (διαβολοσ, origem etimológica de diabo, significa aquele que divide). Em seu aspecto negativo é TOHU V-BOHU (ובהו תהו) o vazio e o amorfo, cujo valor é 430, o mesmo de nephesh (נפש), a alma animal (irracional) do homem.

A tocha entre os chifres sendo o Espírito Santo, RUACH HÁ-KODESH (הפדש רוח), que organiza o vácuo e a matéria, reconciliando o Caos primordial. (Compare com a passagem do Gênesis I, 2.) Sendo o chifre um símbolo do Poder (em hebraico קרנ=chifre, poder, força, provável raiz etimológica da palavra latina “cornu”), sem o Espírito reconciliador, o poder é dividido, e não subsiste, além do que são de caráter lunar e não solar, pois são de touro para alguns, e de cabra para outros, ambos símbolos ligados a terra e seu aspecto fecundo, também ligado à fertilidade e daí a sexualidade, dividida em papéis ativo e passivo. Segundo René Guénon, a associação entre o Touro e a Lua era familiar aos sumérios e também aos hindus, sendo reconciliada pelo crescente lunar, presente em ambos os panteões. Para os hindus o Mahabharata identifica Shiva com sua montaria, o Nandi, ou touro sagrado. Em representações mais antigas, Shiva possui chifres.

Shiva Pashupata, o criador do Yoga.

O Amom egípcio, o deus oculto, era chamado no livro dos mortos de “Senhor dos dois chifres”, mas estes são de caráter solar, chifres de carneiro, conforme se tem pelas representações de Apolo Karneios e mais tarde Dionisos. Segundo Jung o chifre reconcilia, em si mesmo, os papéis ativo e passivo, respectivamente pela força de penetração e por sua abertura em forma de receptáculo. Nas religiões persas encontramos Mitras imolando o touro, o pai de todas as coisas. Esta relação entre o touro e Mitras encontra uma ressonância em Baphomet que para alguns ocultistas induz a plena identificação de ambos os seres. Crowley dizia, citando Von Hammer-Purgstall, que Baphomet era originalmente grafado com um “r” solar no fim da palavra, assim teríamos Baphometr (?) ou Baphomitr (?), que significava “pai Mitra”, e ele era um deus touro ou matador de touros. Além disso, Mitra era uma divindade solar dos persas, na realidade ele não matava o touro, mas o sacrificava, fazendo deste animal, entre os orientais, um animal solar, em contraposição a natureza lunar do mesmo touro entre os babilônios, embora ambos estejam relacionado à fertilidade, aos ciclos do das estações e a agricultura.

Resumidamente, os poderes dos chifres lunares de Baphomet poderiam ser tomados como as forças ativas e passivas da natureza, balanceadas pelo intelecto ou Logos. O Adepto ou iniciado deve possuir esses atributos, sendo essa a natureza do Bodhisattva, termo sânscrito (em tibetano Diang Shuv Sempa), que significa “aquele cujo espírito é desperto (a tocha) e que age com coragem (os chifres)”.

O simbolismo dualista presente no glifo nos indica a princípio o caráter andrógino do ídolo. Nele estão presentes, além dos signos duplos dos braços, chifres, luas, etc., a unidade dos dois sexos, representados pelos seios e pelo falo, ou lingan, em forma de caduceu. Os traços da androginia são presentes em muitas divindades como Adônis, Dioniso, entre outros. Não é um ser assexuado, como quer o modelo do cristianismo (suprimindo falo e pondo um caduceucomo signo cognato), mas explicitamente bissexual, conforme podemos observar nas divindades gregas. Zeus teve “casos” com mortais e imortais de ambos os sexos, Dioniso o fazia igualmente.

O lingan tântrico é representado muitas vezes com a Yoni em seu corpo. Shiva e Shakti abraçam-se e tornam-se Adha-Nari, o ser primordial. Veja também os diálogos de Platão, especialmente o Banquete. Não apenas no paganismo encontramos tais ocorrências. O Midrash judaico também relaciona a androginia de Adam-Kadmon como um estado que é preciso reconquistar.

A cabeça do ídolo é a do Bode, animal de natureza lunar, em oposição ao carneiro solar, mas segundo Levi trás os traços do cão, do touro e do asno. Levi interpretou esses hieróglifos de uma forma demasiadamente pejorativa, associado-os a responsabilidade da matéria e a expiação dos pecados corporais; provavelmente, em relação ao bode, tenha sido inspirado pelas lendas do Bode de Zazel, o bode expiatório, e daí sua relação com o pecado. Essa significação não se esgota nisso, aliás, ela é muito mais profunda e dirige-se a rumos bem diferentes do imaginário judaico-cristão.

Isto apenas indica que o simbolismo do bode e da cabra foi extremamente degenerado do cristianismo para frente, principalmente pelo aspecto sexual da figura. Libidinosus foi a palavra usada por Horácio nos Épodos, Livro 10, verso 23, para designar o animal que era sacrificado para afastar as tempestades, ambos os símbolos associados ao desregramento e ao caos. Saint-Martin chama-o de “animal fedorento”, sinal da “abominação”, “rejeição”, “putrefação e iniqüidade”. Foi na idade média que a iconografia cristã associou o Diabo, o deus da luxúria (sexo) ao bode, em decorrência de sua absorção a necessidade de reprodução.

Na Índia, a cabra é Prakriti (matéria), a mãe do mundo (AMMA MUNDI), que possui três qualidades essenciais: sattvas, rajas e tamas. A cabra, além de sua ligação com a fertilidade (Pan, divindade arcádica da fertilidade era representado com cascos e chifres de bode) e a luxúria por sua pujança e fecundidade genésica (libido), era sagrada na maior parte das culturas antigas.

Adorada entre os babilônios em Susa como deus da fertilidade, era especialmente considerada pelos gregos como portadores de teofania, sendo sacrificada na ocasião da consulta dos oráculos. Diodoro da Sicília relata que em Delfos foram elas que chamaram a atenção dos camponeses para certos vapores que exalavam das rochas, e que faziam as cabras pular de modo bizarro e incomum. Sobre estas rochas eles fundaram um oráculo. Ainda entre os gregos, é conhecida a tradição órfica que a alma iniciada é como um cabrito caído dentro do leite. O bode é especialmente caro também a Dioniso, uma vez que além de ser sua oferenda predileta, foi na forma de um bode que ele fugiu de Typhon, indo para o Egito.

O simbolismo do bode se liga de forma sutil ao do fogo, vez que ambos são considerados elementos essenciais dos ritos de Iniciação. Ainda no Atharva Veda, 9, 5 vemos tal associação de modo claro: “o bode é Agni; o bode é o esplendor/que afasta as trevas para longe./ ó bode, sobe ao céu dos homens justos”.

Além do que os bodes são exímios em escalar grandes montanhas ou picos rochosos. Seu equilíbrio é notável e não demonstram medo algum de altura. Tais qualidades são esperadas do iniciado, mas em sentido esotérico, i. e., as alturas da sabedoria as vezes se tornam sufocantes, o ar se rarefaz, mas como o bode, no qual ele tem se convertido (a idéia é de Orfeu), ele não deve se deixar arremeter pela falta de ar nem pelo medo da altura.

Os traços de cão ou chacal são facilmente associados ao deus Anpu ou Anúbis como guia das almas ao mundo subterrâneo, Thuat. Esse processo de morrer implica o renascimento de Osíris, um cognato explícito da Iniciação. Assim Anúbis é o guardião do portal para o mundo subterrâneo, isto é, o mundo oculto, o templo onde a Iniciação ocorre para o renascimento do neófito como Osíris. Vemos o cão no mesmo posto na mitologia grega, onde haveremos de encontrar Cérbero, o cão de três cabeças do Hades, um monstro mitológico, afável para os que chegam, brutal e feroz para os que tentam escapar. Além disso, para os profanos o principal atributo do cão é a fidelidade, que para um iniciado é uma das principais virtudes. Assim o iniciado tem estes atributos do cão como elementos do seu juramento: ser fiel a ordem, e guardar as portas do templo contra a curiosidade dos profanos.

Ainda ligado ao mundo dos mortos, veremos que na Índia o asno aparece como o asura Dhenuka, ligado a Nairrita, guardião da região dosmortos e Kalaratri, aspecto sinistro de Devi. O asno era relacionado comumente a ignorância na maioria das culturas antigas. Apuleio, no livro O Asno de Ouro, mostra-nos Lúcio, apaixonado por uma cortesã, sendo transformado em asno, que segundo Jean Beaujeu, é “a manifestação concreta, o efeito visível e o castigo de seu abandono ao prazer da carne”.

Concluímos assim que o asno está intimamente ligado aos aspectos bestiais da força sexual. Mas no quesito relacionado à Iniciação, encontramos o asno relacionado a Baco. Aristófanes, no poema As rãs, coloca estas palavras na boca do deus: “eu sou o asno que carrega os mistérios”, e, conhecendo as relações das lendas de Cristo e Dioniso ou Baco, teremos um paralelo com a celebração da festa dos ramos, quando o Cristo (que representa um grau e não uma pessoa) adentra as portas da cidade sagrada montado numa mula (um asno “castrado” para os freudianos).

No cristianismo-gnóstico o asno é um animal sagrado, uma vez que, além de carregar o Cristo na sua sagração pública, aparece em sua natividade e na fuga para o Egito. Neste âmbito judaico cristão, o asno esta também associado a Saturno, o segundo sol, que é a estrela de Israel. Saturno portanto é identificado com o Tetragrammaton. Por sua vez, Saturno se relaciona com Set, o deus Egípcio que era adorado nos desertos do sul na forma hierática de um deus com cabeça de asno. Finalmente, quanto a natureza do glifo, não parece ser um animal lunar, mas solar, uma vez que é associado comumente pelo tamanho de seu pênis a Príapos, uma divindade grega da fertilidade e da agricultura, de natureza solar-fálica, como todos os deuses solares, que são também relacionados ao falo.


Por Ifá Korede Emerson Fernandes

Fontes:
A Cabala - Eliphas Levi
Baphomet - Um Ensaio Analítico Simbólico (Frater Iaidah Baphometo 6667)

sexta-feira, 8 de março de 2019

Sociedade Ancestral - Egungun



Sociedade Ancestral - Egungun
Parte 01

Egun, todo e qualquer espírito de pessoas iniciadas ou não, Esá espírito dos adoxus e dignatários do egbe (casa). Os nagôs, então, cultuam os espíritos dos "mais velhos" de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial. Porque o objetivo principal do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os Babá trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e seus conselhos mas não podem ser tocados, e ficam sempre isolados dos vivos. Suas presença é rigorosamente controlada pelos Ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles. Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá-Egun ou Egun-Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos de búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina. Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida. Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo. No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser destemundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto. www.cliqueapostilas.com.br O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo". A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral; outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de Egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, Egun está entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as roupas ali estão e isto é Egun. A roupa do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia , ou o Egungun propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixan para controlar a "morte", ali representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por Egun se tornará um assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria morte. Ora, o Egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados sacerdotes — como os Ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais Eguns — desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixan. www.cliqueapostilas.com.br Os Egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-Egun (pai), são Eguns que já tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os vivos. Os Apaaraká são Eguns ,ainda mudos e suas roupas são as mais simples: não têm tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás. Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo. O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de pano coloridas, formando uma espécie de largas franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos, do qual ,também caem muitas tiras de pano da altura do tórax ; e o banté, que é uma larga tira de pano especial presa ao kafô e individualmente decorada e que identifica o Babá. O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele o sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-Egun portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o alabá máscaras esculpidas em madeira chamadas de erê egungun ; outros, entre os alabá e o kafó, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às vezes, o ixan. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos. Existem várias qualificações de Egun, como Babá e Apaaraká, conforme seus ritos, e entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em verdade, são extensas. www.cliqueapostilas.com.br Nas festas de Egungun, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo. Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuixan (iniciados que portam o ixan) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos Ojé saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas. Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os Ojé podem entrar, e o lêsànyin ou balé, onde só os Ojé agbá entram. Balé é o local onde estão os idi-egungun, os assentamentos - estes são elementos litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o Egun ali cultuado -, e o ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixan, os quais, de pé, delimitam o local. Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios Eguns. No balé os Ojé atokun vão invocar o Egun escolhido diretamente no seu assentamento, e é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de Egun — nasce através do conjunto Ojé-ixan / idi-ojubô. A roupa é preenchida e Egun se torna visível aos olhos humanos. Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuixan até a porta secundária do salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali chegaram levados pelas vozes dos Ojé, pelo som dos amuixan, branindo os ixan pelo chão e aos gritos de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egun). O clima é realmente perfeito. www.cliqueapostilas.com.br O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos. Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são exceção, como se fossem a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egun — estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos Orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los. Este espaço sagrado é o mundo do Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixan que os amuixan colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla. As vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egun com o ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito. O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelos oiê femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes. Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível iorubá arcaico e seu atokun funcionara como tradutor. Babá-Egun começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral e a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas. Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo. Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidade cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.

Fonte: Internet.

Baba Korede Iyemi Agbolé Obemó Songó Fé Mí