IWORI-WOSA
O dia que uma
criança dá o aviso que vai se suicidar
Não se pode
permitir que sua intenção se concretize
Ifá foi
consultado para Matanmi (não me engane)
Que estava vindo
do Céu para a Terra
Ele foi avisado
que deveria fazer sacrifício
O que devemos
sacrificar para não sermos enganados pela Morte?
...
O que devemos
sacrificar para não sermos enganados pela Doença?
...
EJIOGBE
O olho da agulha
não goteja pus
No banheiro não
se põe uma canoa a navegar
Ifá foi
consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia
um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora
feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria
morrer logo na flor da idade
O caso do Emere
(Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez
que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de
duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun.
Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos.
Eles voltariam ao Òrun
quando:
- Vissem pela
primeira vez o rosto de sua mãe;
- Casassem;
- Completassem 7
dias de vida;
- Tivessem novo
irmão;
- Construíssem
uma casa;
- Começassem a
andar.
E nenhum queria
aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam insuficientes para
retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem.
Esta primeira
leva de crianças Àbíkú combinaram entre si também roupas, rituais, chapéus e
turbantes, tingidos de òsun que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e que,
se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas, poderiam
segurá-las na Terra.
As roupas seriam
colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú, em Awaiye, e seus
pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para alegrar os
Àbíkú, que seriam untados com òsun, e não voltariam mais ao Òrun, rompendo
assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú.
Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças
que, depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser
conservadas vivas, devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebo
determinados por Òrúnmìlà, trocando ou acrescentando um nome que os
desanimassem de morrer novamente, usando folhas sagradas em fricções nos seus
corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú, colocando em seus
tornozelos Sawooro , fazendo em seus corpos pequenas incisões, e através delas
inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este mesmo pó
enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado Óndè que seria
preso à cintura da criança.
Alguns Àbíkú
também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não
os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como recomendavam os
Itan Ifá - roupas e chapéus
tingidos com òsun, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, dentre outros segredos a serem entregues
no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas águas.
Estes Ebo
possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam mais.
Porém, se apesar
das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e Iyajanjasa insistissem
em vir à Terra em busca de suas crianças, e conseguissem levá-las de volta ao
Òrun, os pais deveriam marcar seus corpos, para que seus pares no Òrun não os reconhecessem ou aceitassem de
volta.
Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem
à Terra e não quereriam mais nascer.
Nas terras de
ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do
nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Bàbáláwo e
descobre estar dando a luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer
inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais.
O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebo, o uso de folhas,
procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher
estiverem mortos, e para que ela possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter
a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun, mantendo-a viva.
Até que a criança
complete nove anos, sempre próximo à data do seu aniversário, determinadas
oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos.
A criança deverá
usar roupas especiais, com enfeites e cores específicas, seu nome deve ser
mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule sua volta ao Òrun.
Guizos em
quantidade devem ser presos a seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso, pois
o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu.
A fava Éerù, no
Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás, pacificando a
criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la.
Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa tem a mesma
crença nos Àbíkú, embora dêem à eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de
Kuchi ou Gaya-Kpeama. Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu
ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta.
Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os
Fanti são conhecidos por Kossamah.
Famílias que já
perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e uma
explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsà e do Candomblé
Ketu, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o
sofrimento dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra.
Temos muita pouca
literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução de um
excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia no
14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual
farei citações literais mais adiante.
Outros autores
africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em considerações
superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis para a
quase totalidade do sacerdócio brasileiro.
O fato de não
possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de Awaiye, não
nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das
famílias das crianças Àbíkú.
Nada porém dever ser feito sem confirmação e autorização
de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas.
Por Ifá Korede Iyemi Songó Fé Mí