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Ifá Espirito Santo Liberdade

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ORÍ – A LUZ DIVINA QUE NOS HABITA



1ª. Parte: O Poder do Orí


Por Eliane Haas


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Enquanto as religiões ocidentais do ramo judaico-cristão fundamentam sua fé em rogos e promessas a Deus e santos / entidades à fim de obterem proteção e a satisfação de seus desejos, Ifá - talvez a religião mais antiga da Terra, já que a ciência concluiu que o homo sapiens teria surgido na África - baseia-se numa concepção praticada hoje pela moderna psicologia.

Atualmente os livros de auto-ajuda fundamentam-se na premissa de que assim como o sucesso é o resultado de uma soma de pensamentos positivos, assim como escolhas acertadas e disciplinadas durante um longo período de tempo, o fracasso é o resultado inevitável de um acúmulo de pensamentos e escolhas inadequadas que fizemos.

Um casamento mal sucedido, a falência de uma empresa, problemas no trabalho, a doença que se "faz" - nada ocorre repentinamente ou é fruto de uma eventual má sorte. Lògicamente existem predisposições e pré requisitos, mas o fator livre-arbítrio é relevante, inclusive perante o desafio de avaliarmos com lucidez nossos limites, medos, inseguranças e conseqüências a longo prazo.

Segundo os ensinamentos de Ifá, nenhuma Divindade ou entidade externa apóia mais o ser humano do que o seu "Orí", ou seja, a sua própria mente. As rezas ao Orí dizem que "nosso Orí sobreviverá com o seu próprio axé (energia). Tudo o que queremos para a nossa vida, é ao Orí que devemos pedir, pois ele é o criador de tudo na nossa vida. É quem faz tudo acontecer e pode mudar o nosso destino.

Ori é tão soberano e seu livre-arbítrio tão sagrado que até os Orixás - energias divinas que propiciam a nossa existência em matéria - não interferem, se esta não for a sua real vontade. Ori está, portanto, acima dos Orixás e nenhum deles, nem mesmo Olodumare ( Deus Supremo Universal ) atenderá um pedido do ser humano que não tenha sido autorizado pelo seu Ori. Aqui vemos claramente o conflito entre o consciente e o inconsciente.

Como os ensinamentos de Ifá são totalmente baseados na sua literatura, conta o mito que:

Orixás e Ancestrais se rebelaram, querendo obter os poderes e a sabedoria de Olodunmare. Como mensageiro desta reivindicação nomearam Exu, que as transmitiu a Olodunmare. Este lhes enviou um obi (noz de cola, portadora da Vida) e, Orixás e Ancestrais deveriam tentar parti-lo para provar o seu poder. Ori era apenas uma pequena bola, sem corpo para se apoiar e ninguém o respeitava. Para conseguir partir o obi, procurou Orunmilá, Pai do segredo de Ifá, que o aconselhou a fazer uma oferenda para os Odus (caminhos do Destino), à fim de obter a força de cada um deles. Além disso, deveria espojar-se na terra. No dia seguinte todos tentaram, sem sucesso, partir o obi. Quando Orí se apresentou, como última opção, deixaram-no tentar. Com seu peso, caiu sobre o obi, que se partiu. Todos ficaram muito felizes. Olodunmare, ao receber a notícia, imediatamente enviou uma linda almofada, onde Orí se instalou. Dessa forma, Orí ganhou um corpo para sustentá-lo. À partir deste momento, Orí nasceu. Passou a ser dotado de Iwa - a existência - concedida por Olodunmare, como prêmio por ter sido o único a conseguir partir o fruto-ventre.

Com o advento de uma Era que revela "tudo o que estava oculto", a profundidade e a sabedoria dos ensinamentos de Ifá - à luz da psicologia e da física - surpreendem a todos, obrigando a uma revisão de valores, principalmente junto àqueles que classificavam a espiritualidade e práticas religiosas das etnias negras como supersticiosas e atrasadas.


2ª. Parte: Orí, a divindade do homem – O segredo revelado

 

Por Ifá Korede Emerson Fernandes

 
Ajalá recebeu de Olodunmare a incumbência de modelar o Orí, a cabeça dos seres humanos. Sempre que alguém está para reencarnar, vai até Ajalá escolher uma cabeça.
Juntamente com o Orí, a pessoa estará também aceitando o seu Odú, determinado por Orunmilá, só então, será acolhida pelo seu Orisá. Tanto o Odu como o Orisá só podem ser desvendados através do oráculo, Ifá.

O local de onde Ajalá retira a massa para modelar o Orí é chamado ipori e aí se encontra a herança genética de cada um, em especial do pai e da mãe. Assim, tendo Orí em si um componente de ancestralidade, as pessoas devem, também, venerar os seus antepassados, culto a Egungun.

Sobre a filosofia de Orunmilá-Ifá acredita-se que o homem é constituído dos seguintes elementos:

 

ð  Ara – Corpo Físico – é considerado a morada da consciência de Deus, no homem.  É a materialização do espírito no mundo.

ð  Òjìji – Sombra – é aquela que nos acompanha. Uns crêem, sem função alguma, outros que o espírito humano reside na própria sombra e a vêem como representação plasmática do espírito ou fantasma humano.

ð  Okàn – Alma, espírito, coração ou consciência – é entendida como aquela que possuí a função de alimentar a ação, o pensamento e a inteligência do homem.

ð  Èmí – Vida ou Respiração – reside nos pulmões, está associada ao espírito e a força vital que nos permite ações e movimentos; Èsù bara – Esu do corpo, por um determinado período, pois quando se esvai, o homem morre. Èmí é vista como o agente principal dos processos de Criação de todas as formas de vida do Universo e representa a continuidade através das mortes, dos nascimentos e renascimentos.

ð  Orí – Cabeça – é entendida como principal divindade do homem (Òrisá).  Forte e poderosa, nos acompanha durante toda existência, ajudando-nos e acompanhando-nos desde o nascimento até o dia da morte.  Traçando ou definindo o destino, pode facilitar ou complicar a realização dos nossos desejos.

 
Orí se subdivide em duas partes:
1.    Orí Odè – A cabeça física - é o crânio humano, onde está o cérebro, esta é a responsável pela organização dos pensamentos e controle das outras partes do corpo; consciente ou inconsciente; É uma guardiã atenta mesmo quando o indivíduo se encontra em estado de inconsciência, dormindo por exemplo. Conclui-se daí que o ser humano depende de sua cabeça para representá-lo dentro do macro-cosmo, pois os sonhos, “as vezes”, aparecem como avisos de sua Alma Guardiã no céu.
2.    Orí Inú - cabeça Interna ou espiritual – é a mais complexa, por conter as partículas Divinas deixadas dentro do homem e representar a origem ancestral da humanidade e não as origens de um indivíduo em particular; guardadas aí estão todas as informações sobre a Criação do homem.
2.1. APARÍ-INÚ - Parte interna da cabeça, é a Partícula Divina deixada no homem e aparece para possibilitar a ligação do Ser Criado com o Criador, Olódùnmarè, e com sua Mãe, pois Apári-Inú é o umbigo. Esta é a parte da Orí, cabeça, responsável pela formação do caráter do homem e, ao mesmo tempo, aparece como opositora deste mesmo caráter – apresentado como individual – para delimitar o livre-arbítrio e forçar o sujeito a usufruir dos seus erros e acertos e conquistar seu próprio espaço. Pois, o indivíduo pode nascer para o mundo com uma boa Orí, cabeça, porém, se o caráter não for compatível, o comportamento ruim pode estragar o destino.  Entretanto, quando há dificuldades que não forem causadas pela falta de bom comportamento da pessoa ou porque tenha sido influenciada por outra pessoa de caráter ruim a se comportar mal, isso pode ser mudado com alguns rituais, por não fazer parte do seu destino – as dificuldades aqui foram causadas.
2.2. ORÍ-ÀPÉRÉ – Cabeça Padrão – é a divindade interna do ser humano que descreve o padrão de sua individualidade e da sua responsabilidade no cumprimento do seu destino
             O ORÍ-ÀPÉRÉ Se divide em duas partes:
2.2.1.   ÀKÚNÈYÀN - é a parte da cabeça que, ajoelhados diante de Olórun, pegamos no Céu.  É uma parte do destino escolhido – livre-arbítrio – pela Alma Guardiã Ancestral na casa de Àjàlá, Oleiro do Céu, na ocasião que está se preparando para reencarnar na Terra, e define – o tempo de vida, as conquistas almejadas e a qual família terrena irá pertencer.  Ajoelhada diante Olórun, a esta Alma é oferecida a oportunidade de escolher o próprio destino. 
O destino determina se a pessoa será rica, feliz, gentil, sábia, popular, ou se pobre, impopular, desumana, extravagante, etc. Fixa o número de filhos e a ocupação que deve ter.
Se a pessoa aprende com rapidez um ofício ou executa uma tarefa melhor que o seu professor, todo mundo diz que suas habilidades provêm de Olórun como parte do destino que recebeu.  Do mesmo modo, se a pessoa é lerda e tem dificuldades para aprender um ofício, também dirão – provém de Olórun e que suas aflições não podem ser rastreadas, pois não há qualquer agente maligno.
Ninguém pode mudar o destino escolhido no Céu.  Entretanto, pode preservá-lo mediante atos de oferecimento aos Ancestrais Guardiões, Orí Ìpònrí, e a sua divindade pessoal, Orisá.  Também pode prejudicá-lo, quebrando os tabus, ewó, estabelecidos ou mediante a aplicação de medicinas negativas, õgùn, e feitiçaria, ofò ibi.
O papel do Oráculo de Ifá é somente o de aconselhar o indivíduo sobre aquilo que deverá fazer para que o seu destino não seja tão ruim quanto pode, diante das ações dos maldosos ou por negligência dele mesmo.  Pois, fazendo oferendas para a própria cabeça, assegurará todas as bênçãos a que fizer jus, mesmo que a pessoa não possua uma cabeça tão boa.
Ifá diz – “O destino pode ser modificado – quando há interferência – o caráter não pode ser modificado”. Pois, estabelecido como roteiro para a vida, pode trazer muitas bênçãos se seguido a fim de consumá-lo.  Bastando viver de modo a completar o período de vida previsto, oferecer orações, sacrifícios apropriados,  empregar medicinas protetoras e comportar-se corretamente em todos os sentidos – mais ninguém consegue tudo isso! É um jogo duro no qual a disputa com Deus e Deuses, o homem tenta igualar o comportamento de ambos num mundo onde não há anjos.
 
2.2.2.   ÀYANMÒ – Destino – apesar de ser o destino em si, é a parte da Orí, cabeça que não aceita rituais curativos ou preventivos.  Não aceita qualquer mudança.  É responsável pelo caráter interno e externo: sexo, aparência, pai, mãe, Karma, etc. As oferendas não mudam isso.

Bibliografias consultadas:
As Religiões Africanas no Brasil - Roger Bastide
Orí, A Divindade do Homem - O Segredo Revelado - Orlando J. Santos

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ORUNMILÁ- IFÁ, A DIVINDADE ORACULAR DOS YORUBAS

Por Ifá Korede Emerson Fernandes

A Religião Tradicional Yorubá, originária da Nigéria, Togo e República do Benin (África Ocidental), uma das raízes do Candomblé, da Umbanda e de outras práticas religiosas brasileiras, tem seu panteão de divindades constituído pelos Orixás e regido por Eledunmare, o Ser Supremo. Seu riquíssimo corpus literário, oralmente transmitido através das gerações, compõe um corpo teológico denso e coerente, mantido invisível em alguns países da diáspora, e uma liturgia bastante complexa.
 
Orunmilá, ou Ifá, a divindade oracular dos Yorubás, é respeitado por sua sabedoria. A palavra Orunmila, formada da contração de orun-l'o-mo-a-tila, “Somente o Céu conhece os meios de libertação”, resulta também da contração de orun-moola, “Somente o céu pode libertar”. A palavra Ifá tem por raiz fa, que significa “acumula”, “abraçar”, “conter”, indicando que todo o conhecimento tradicional Iorubá acha-se contido no Corpus Literário de Ifá, o Odu Corpus, conjunto de conhecimentos esotéricos e registros históricos dessa milenar tradição.

Eleri-ipin, testemunha (ou defensor) do destino humano, Ifá presencia o nascimento de todos os seres. Somente ele conhece o ipin ori, destino do ori (Essência Divina), e pode sondar o futuro e orientar quem o procura. Por isso é consultado nos momentos críticos da existência.

A palavra Orunmilá designa a divindade, enquanto a palavra Ifá designa, simultaneamente, a divindade e o sistema divinatório a ela associado. Para orientar os que o procuram, o sacerdote de Ifá, chamado Babalawo, pai do segredo, reporta-se ao Odu Corpus que, além de preservar a história dos Orixás, preserva também ensinamentos sobre curas com recursos naturais, razão pela qual deve conhecer, além da prática divinatória, o preparo de remédios.

ORUNMILÁ, PAI DO ORÁCULO SAGRADO
Por Eliane Haas

Orunmilá é o Orixá Senhor da sabedoria (ogbon) e do conhecimento (imo), que tendo adquirido o direito de viver entre o orun (o além) e o aiyê (o mundo material) , tudo sabe e tudo vê na totalidade dos mundos. Por isso recebeu o título de gbaiye gborun : aquele que vive tanto no céu como na terra, transcendendo espaço e tempo.
Como testemunha da criação universal é chamado também de elerii ipin e detém o conhecimento do passado, presente e futuro do destino de todos os habitantes do aiyê e do orun em todas as dimensões cósmicas.

Na Terra, Orunmilá é quem apresenta o destino ao reencarnante por ocasião da sua concepção (kadara) e, mediante aceitação pelo livre arbítrio individual, libera o indivíduo para o ( re-) nascimento. Conhece todos os destinos e como propiciar o sucesso em todos os âmbitos, alem de revelar o Orixá pessoal de cada um, ou seja, a substância da qual cada um foi extraído na atual existência e como integrar o indivíduo a este princípio Divino.
Como a religião yorubá é totalmente baseada em mitos (itan) que constituem a literatura de Ifá, conta-se que,
" após permanecer na Terra por algum tempo, Orunmilá retornou ao orun, esticando uma longa corda pela qual ascendeu. Os seres humanos ficaram totalmente desorientados. O caos, a fome e a peste imperaram na Terra, já que ele era o porta-voz da vontade de Olodumare - a Suprema Divindade Universal. O ciclo de fertilidade das plantas e animais foi interrompido, trazendo ameaça de extinção. O clamor pela sua volta não foi atendido, mas deixou com seus filhos os 16 ikin (coquinhos de dendezeiro) , que se transformaram num importante instrumento de adivinhação denominado "ikin". Entregou os ikin instruindo que sempre que desejassem as coisas boas e realizações positivas na vida, deveriam consultar os coquinhos. Daí nasceu o sistema oracular denominado Ifá, que auxilia o ser humano na resolução dos seus problemas cotidianos, nos conflitos e nas dúvidas existenciais, como mediador entre o humano e o divino. Assim, Orunmilá é considerado o Pai do Oráculo."
Uma modalidade oracular mais simples é o ibo e a mais popular das três é o opele ifa. Apenas sacerdotes iniciados no culto de Orunmilá - os Babalawos – são credenciados para utilizar esses oráculos.
Os oráculos são baseados no sistema binário e comportam 256 combinações matemáticas que definem os caminhos de Odu, com seus milhares de itan (mitos) e owe (parábolas). Sua missão foi organizar as relações humanas, ajudar na doença, orientar nas contendas de todo tipo de assunto, valendo-se para isto dos itan relatados pelos Odu.
Todo o corpo filosófico da religião yoruba se resume nesses signos de Ifá – os Odu , que por sua vez se subdividem em caminhos com os respectivos itan, que são mitos de instrução, orientação e aconselhamento.
O nome de Orunmilá e o do sistema oracular opelê ifá muitas vezes se confundem e o culto a Orunmilá passou a ser conhecido como Ifá. Já o oráculo merindilogun – o popular jogo de búzios – mediante interferência do Orixá Exu, pertence a Oxun e pode ser consultado por sacerdotisas. No jogo de búzios utilizam-se 16 kawri (búzios) no qual respondem os 16 odu principais, num total de 70 caminhos e os orixás que respondem através deles. Independente da modalidade utilizada, para cada caminho há um itan a ser interpretado.
Na tradição religiosa Yorubá, nada se empreende sem prévia consulta ao oráculo e todo procedimento ritualístico dele depende. Conforme informado anteriormente, o oráculo é a única opção autorizada e confiável quanto à definição do Orixá pessoal, responsável pela cabeça do ser humano.
 
 
Orunmilá é o interventor e defensor dos seres humanos, sempre tentando minorar os sofrimentos e dificuldades que enfrentam na saga das suas sucessivas existências na Terra.