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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tambor - Breve Síntese - Origem e Religiosidade



                                             Por Ifá Korede Emerson Fernandes

Origem

Tambores são tão ancestrais quanto o próprio homem. Os primeiros foram criados e manuseados ainda na Pré – História, com o objetivo de cultuar Deuses e como forma de agradecer a comida conseguida por meio da caça aos animais.

Milênios se passaram e centenas de representações religiosas ou espirituais foram criadas de acordo com a cultura e a cosmovisão de cada povo, de cada etnia, principalmente de acordo com os padrões sócio – econômicos de cada época. Imagens, cerimônias, mitologia, liturgias, símbolos, tambores, chocalhos e atabaques, são expressões da arte na religiosidade e na espiritualidade.

O homem pré – histórico acreditava que a pele de sua caça esticada em troncos de arvores reproduzia o choro do animal morto. E foi com esse sentimento de gratidão que passou a consagrar a morte de sua caça. Pode – se dizer que esse foi um dos princípios da manifestação religiosa do homem e a origem dos tambores. O toque do tambor revela a arte de conectar – se com a Mãe Terra e com nosso eu interior, sintonizando nosso coração ao coração dela, e de viajar ao mundo do invisível, constatando nossa ancestralidade e todos os reinos da Natureza.



Os tambores são utilizados desde as mais remotas eras da humanidade. Acredita – se que os primeiros tambores fossem troncos ocos de arvores tocados com as mãos ou galhos. Posteriormente, quando o homem aprendeu a caçar e as peles de animais passaram a ser utilizadas na fabricação de roupas e outros objetos, percebeu – se que ao esticar uma pele sobre o tronco, o som produzido era mais poderoso. Pela simplicidade de construção e execução, tipos diferentes de tambores existem em praticamente todas as civilizações conhecidas. A variedade de formatos, tamanhos e elementos decorativos dependem dos materiais encontrados em cada região e dizem muito sobre a cultura que os produziu. São típicos nos cultos afro – brasileiros; na dança, nos pontos cantados, no transe.
Em sua fase mais primitiva, a manifestação religiosa do homem tinha como base principal o contato com as divindades – o transe.

A musica e a dança sempre foram os principais feradores dessa comunicação com os Deuses. Alguns historiadores e antropólogos do século vinte destacaram a idéia de que a maneira utilizada para se chegar aos conhecimentos místicos em religiões primitivas, esteve sempre associada ao êxtase ( o transe ) provocado pelo toque do tambor. Esse instrumento seria então o responsável pela comunicação entre o homem e as divindades – seres responsáveis pelo comando da Natureza em nosso planeta.

Mesmo nas religiões mais antigas, o toque dos tambores também foi utilizado não somente para o culto às divindades, mas também como forma de manter contato com os espíritos dos mortos.

Tão comum nas religiões primitivas, segundo a Bíblia, essa pratica foi “proibida por Deus” aos filhos de Israel. Isso acabou por gerar, ao passar do séculos, que a crença dos mais antigos – o fato do tambor constituir – se em instrumento sagrado, e que seu toque fosse utilizado como forma de contato entre os homens e o mundo invisível, pertencente às divindades e aos espíritos dos ancestrais, fosse uma simples superstição.

Por que o tambor foi excluído em narrativas da Bíblia com relação às cerimônias religiosas.
Foi proibido ao povo de Israel tudo aquilo que era praticado anteriormente à revelação das leis, como o uso de bebida forte, o adultério, a utilização de escravos, entre outras praticas. O tambor e as danças eram utilizados em cerimônias festivas. Mas, segundo relatos da Bíblia, quando Davi decidiu erguer um templo para Deus. Este determinou quais instrumentos poderiam ser utilizados: címbalo ( dois meios globos de metal, percutidos um contra o outro ), alaúde ( antigo instrumento de cordas de origem oriental ) e harpa.

Apesar disso, Deus não proibiu a utilização do tambor em outras cerimônias e celebrações.

Há uma outra explicação de religiosos que, de certa forma não aceitam e até discriminam a utilização de tambores em cultos religiosos, a de que o som da percussão teria a capacidade de tirar do homem a consciência e o juízo, portanto, esse instrumento deveria estar fora do culto, que necessita da “lucidez da mente” para o conhecimento de Deus e de sua vontade revelada.


Os Tambores na África
Nas sociedades africanas, a tradição oral é o método pelo qual histórias e crenças religiosas são passadas de geração em geração, transmitindo elementos de uma cultura. Uma parte integrante da tradição oral africana é, sem duvida, a dança e o canto, e o mais importante instrumento musical africano é o tambor, em diferentes tamanhos e formas e para diferentes fins.

O tambor é utilizado para enviar e receber mensagens espirituais, e é essencial na preservação da tradição oral. Na religião africana de culto aos Orixás e Ancestrais, é considerado sagrado, e seu tocador é classificado como um comunicador oral. Aquele que toca o tambor é um orador e um comunicador de mensagens sagradas.

No ritual religioso, os tambores são o inicio de tudo, sempre representaram papel muito importante na cultura africana. Existe um antigo provérbio que diz: ” Quando os tambores são tocados, eles não mentem “.

O ‘ Djembe ‘ é possivelmente o mais influente e a base de todos os outros tambores africanos, e remota há pelo menos 500 anos d.C. é um tambor sagrado utilizado em cerimônias de cura, rituais de passagem, culto aos ancestrais e ainda em danças e socialmente.

Os Tambores Batá

A origem dos tambores Bata remonta há mais de 500 anos, e sua história sobreviveu juntamente com o povo Yorubá, que chegou à América como escravo, mostrando a profundidade dessa religião e cultura, das quais é parte importante. O tambor Bata faz parte da prática religiosa chamada de “Santeria”, desenvolvida em Cuba e nos EUA, com influencia principal da religião tradicional Yorubá, mas também de outros grupos étnicos, como os de língua Bantu, da região do Congo.

Os tambores Bata podem falar, e não no sentido metafórico, podem realmente ser usados para recitar preces religiosas, poesias, saudações e louvores. Em Cuba, são utilizados em todas as cerimônias relacionadas ao Orixás, e recebem o nome de ‘ Bata de Fundamento’. Sua fabricação e consagração requerem toda uma força espiritual, que é inserida dentro de seu cilindro de madeira. Ao ser consagrado, recebe o nome de ‘ Ayàn ‘.



Tambores em rituais Indígenas Brasileiros

Um dos mais importantes instrumentos sonoros das culturas indígenas do Brasil, por se relacionar com o lado pratico, musical e religioso, é o tambor. Existem os tambores de madeira, tambores de tábua, tambores de tronco escavado, feitos e moldados a fogo.
Alguns tipos de tambores indígenas:
a.. Tambor Catuquinaru: Instrumento de sinalização.
b.. Tambor de Fenda: Feito de uma tora de madeira e escavado por meio de pedras incandescentes.
c.. Tambor de Carapaça: Feito de Carapaça de tartaruga.
d.. Tambor de Cerâmica: Consiste num vaso de barro, tendo abertura fechada com couro. É um velho elemento de civilização, talvez representando um dos mais antigos tambores do mundo.
e.. Tambor de Pele: Confeccionado com um cilindro de madeira, geralmente fechado de um lado só. A fixação da pela é feita com cipós, por meio de compressão.
Há muitos templos de Umbanda que * Os tambores feitos de tora de madeira tanto existem nas tribos brasileiras, quanto entre populações da África e Oceania. Também os tambores de cerâmica podem ser encontrados na África.

A Orquestra do Candomblé
A orquestra do Candomblé é constituída por atabaques, agogôs, cabaças e chocalhos. Os atabaques são três, em tamanhos diferentes: Rum (maior), Rumpi (médio) e Lê (menor). Existe também o Agbé ou piano de cuia, o Adjá e o Xeré, este último só é usado em festas para Xangô. Os tocadores tem um chefe denominado de Alabê. Os atabaques são considerados essenciais para invocação dos Deuses.



Utilização dos Atabaques na Umbanda
Não se utilizam de atabaques em seus cultos. Se voltarmos ao inicio, quando a Umbanda foi anunciada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, não havia a utilização de tambores, apenas cânticos. O ritmo era mantido com o bater compassado dos pés no chão.

Atualmente, a explicação para muitos temploes manterem essa formação sem tambores nos rituais de Umbanda é a de que os atabaques e o seu som percutido levam o médium a um processo de transe anímico, ou seja, estimulam o atavismo, a lembrança ancestral, o afloramento do subconsciente do médium, o que pode dificultar a atuação das Entidades Espirituais. Até mesmo as palmas, em muitos locais são dispensadas.

Os atabaques utilizados nos templos de Umbanda servem como ponto de ligação e louvação aos Orixás e Guias de Umbanda. Dão ritmo aos cânticos e criam fortes vibrações para a chamada e descida das Entidades que estarão ali trabalhando. Da mesma forma, são utilizados no acompanhamento rítmico das cantigas de ” subida “, ao termino das sessões.

Há todo um preparo e consagração desses tambores para que sejam utilizados no rituais umbandistas, igualmente aos Ogans e Alabês, responsáveis pelos toques. O uso dos atabaques surgiu na Umbanda, acredita – se, por influencia dos cultos de origem africana, em especial o de origem Bantu ( Angola ), em que os tambores são percutidos com as mãos, diferentemente dos Candomblés de Nação Keto, que utilizam varetas, chamadas de ” Akidavis “.

Após a anunciação da Umbanda, a fundação da Tenda Nossa Senhora da Piedade e todas as outras determinadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, houve um período em que alguns lideres religiosos e intelectuais foram a África no intuito de pesquisar as origens da ancestralidade africana da Umbanda, em contraponto à chamada Umbanda Esotérica, que identificava as origens da Umbanda em antigas culturas orientais. Trouxeram para a Umbanda praticas utilizadas apenas em cultos de origem africana, como o toque dos atabaques.

A Formação da Corimba de Umbanda

A chamada ” Corimba ” é formada pelos Ogans, responsáveis pelos toques que chamarão e receberão as Entidades em Terra, que irão trabalhar na Gira de Umbanda, e pelos cantores, que puxam os pontos cantados – cânticos de descida e subida. É o conjunto musical da Umbanda, responsável pelo inicio e término dos trabalhos.

É pelo toque dos atabaques que se faz a conexão com o Mundo Espiritual, permitindo assim que os Guias realizem seus trabalhos nos templos de Umbanda, por meio dos médiuns ali presentes.



O Poder dos Tambores Indígenas

Na cultura dos índios americanos, os tambores são objetos sagrados, usados pelo Xamã ( líder espiritual ) na cerimônias de cura. Também servem para proteger o ambiente.

De acordo com os princípios do Xamanismo, cada pessoa tem um bicho de poder que o acompanha por toda a vida. Para descobrir qual é o animal de cada um, é feita uma jornada xamânica em que a pessoa relaxa ao som do tambor e visualiza a imagem do bicho. Feita a descoberta, o animal é então pintado no tambor.

Os nativos norte – americanos associam o toque do tambor às batidas do coração da Mãe – Terra e também ao som do útero. O tambor dá acesso à força vital através de seu ritmo. É a canoa que leva ao mundo espiritual, o instrumento que faz a comunicação entre o Céu e a Terra. É usado para ativar e curar o nosso espírito, alinhando – se com a vibração do nosso coração e com a Mãe Terra. Cada tambor tem seu próprio som, sem igual. Usado em cerimônias, danças, canções e para celebrar.


Os Tambores Xamânicos
Os tambores xamânicos existem há pelo menos 40 mil anos em todas as cultuar tradicionais do planeta. Está associado à direção Sul, ao arquétipo do Curador, ao elemento Terra, às criaturas de Quatro Patas e com a qualidade da Cura. É utilizado para produzir diversos tipos de ritmos com finalidades diferenciadas, desde a musica para a celebração e a dança até o toque constante, que leva ao transe profundo ou ao frenesi coletivo.



Muitos Xamãs usam seu tambor para realizar diversos tipos de cura, como o resgate de uma alma perdida ou sair viajando por outras dimensões do ser em busca de visões e conhecimento. Durante as experiências são comuns as visões de Animais de Poder, Aliados Espirituais, ou outras visões de poder ou de cura.

O som do tambor facilita a conexão de qualquer pessoa com o seu mundo interior e com todos os ritmos de seu corpo, produzindo um estado de relaxamento, de equilíbrio e ampliação de consciência, proporcionando assim uma conexão e harmonização com os ritmos planetários e cósmicos.

Para os que praticam os Rituais Xamânicos – religião oriunda de povos asiáticos e árticos, pratica filosófica e de cura encontrada no mundo todo – , as batidas do tambor são como as batidas do coração da Mãe Terra.

O tambor representa a própria cultura xamânica, unificando – a e aproximando as comunidades. Costuma ser utilizado em diferentes ocasiões, como casamentos e funerais, e em todas as reuniões dos povos nativos, criando uma aura energética que possibilita a conexão com o Mundo Espiritual. Também são utilizados por curandeiros, em rituais de cura.

Fonte: Revista Espiritual de Umbanda






quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ORÍ – A LUZ DIVINA QUE NOS HABITA



1ª. Parte: O Poder do Orí


Por Eliane Haas


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Enquanto as religiões ocidentais do ramo judaico-cristão fundamentam sua fé em rogos e promessas a Deus e santos / entidades à fim de obterem proteção e a satisfação de seus desejos, Ifá - talvez a religião mais antiga da Terra, já que a ciência concluiu que o homo sapiens teria surgido na África - baseia-se numa concepção praticada hoje pela moderna psicologia.

Atualmente os livros de auto-ajuda fundamentam-se na premissa de que assim como o sucesso é o resultado de uma soma de pensamentos positivos, assim como escolhas acertadas e disciplinadas durante um longo período de tempo, o fracasso é o resultado inevitável de um acúmulo de pensamentos e escolhas inadequadas que fizemos.

Um casamento mal sucedido, a falência de uma empresa, problemas no trabalho, a doença que se "faz" - nada ocorre repentinamente ou é fruto de uma eventual má sorte. Lògicamente existem predisposições e pré requisitos, mas o fator livre-arbítrio é relevante, inclusive perante o desafio de avaliarmos com lucidez nossos limites, medos, inseguranças e conseqüências a longo prazo.

Segundo os ensinamentos de Ifá, nenhuma Divindade ou entidade externa apóia mais o ser humano do que o seu "Orí", ou seja, a sua própria mente. As rezas ao Orí dizem que "nosso Orí sobreviverá com o seu próprio axé (energia). Tudo o que queremos para a nossa vida, é ao Orí que devemos pedir, pois ele é o criador de tudo na nossa vida. É quem faz tudo acontecer e pode mudar o nosso destino.

Ori é tão soberano e seu livre-arbítrio tão sagrado que até os Orixás - energias divinas que propiciam a nossa existência em matéria - não interferem, se esta não for a sua real vontade. Ori está, portanto, acima dos Orixás e nenhum deles, nem mesmo Olodumare ( Deus Supremo Universal ) atenderá um pedido do ser humano que não tenha sido autorizado pelo seu Ori. Aqui vemos claramente o conflito entre o consciente e o inconsciente.

Como os ensinamentos de Ifá são totalmente baseados na sua literatura, conta o mito que:

Orixás e Ancestrais se rebelaram, querendo obter os poderes e a sabedoria de Olodunmare. Como mensageiro desta reivindicação nomearam Exu, que as transmitiu a Olodunmare. Este lhes enviou um obi (noz de cola, portadora da Vida) e, Orixás e Ancestrais deveriam tentar parti-lo para provar o seu poder. Ori era apenas uma pequena bola, sem corpo para se apoiar e ninguém o respeitava. Para conseguir partir o obi, procurou Orunmilá, Pai do segredo de Ifá, que o aconselhou a fazer uma oferenda para os Odus (caminhos do Destino), à fim de obter a força de cada um deles. Além disso, deveria espojar-se na terra. No dia seguinte todos tentaram, sem sucesso, partir o obi. Quando Orí se apresentou, como última opção, deixaram-no tentar. Com seu peso, caiu sobre o obi, que se partiu. Todos ficaram muito felizes. Olodunmare, ao receber a notícia, imediatamente enviou uma linda almofada, onde Orí se instalou. Dessa forma, Orí ganhou um corpo para sustentá-lo. À partir deste momento, Orí nasceu. Passou a ser dotado de Iwa - a existência - concedida por Olodunmare, como prêmio por ter sido o único a conseguir partir o fruto-ventre.

Com o advento de uma Era que revela "tudo o que estava oculto", a profundidade e a sabedoria dos ensinamentos de Ifá - à luz da psicologia e da física - surpreendem a todos, obrigando a uma revisão de valores, principalmente junto àqueles que classificavam a espiritualidade e práticas religiosas das etnias negras como supersticiosas e atrasadas.


2ª. Parte: Orí, a divindade do homem – O segredo revelado

 

Por Ifá Korede Emerson Fernandes

 
Ajalá recebeu de Olodunmare a incumbência de modelar o Orí, a cabeça dos seres humanos. Sempre que alguém está para reencarnar, vai até Ajalá escolher uma cabeça.
Juntamente com o Orí, a pessoa estará também aceitando o seu Odú, determinado por Orunmilá, só então, será acolhida pelo seu Orisá. Tanto o Odu como o Orisá só podem ser desvendados através do oráculo, Ifá.

O local de onde Ajalá retira a massa para modelar o Orí é chamado ipori e aí se encontra a herança genética de cada um, em especial do pai e da mãe. Assim, tendo Orí em si um componente de ancestralidade, as pessoas devem, também, venerar os seus antepassados, culto a Egungun.

Sobre a filosofia de Orunmilá-Ifá acredita-se que o homem é constituído dos seguintes elementos:

 

ð  Ara – Corpo Físico – é considerado a morada da consciência de Deus, no homem.  É a materialização do espírito no mundo.

ð  Òjìji – Sombra – é aquela que nos acompanha. Uns crêem, sem função alguma, outros que o espírito humano reside na própria sombra e a vêem como representação plasmática do espírito ou fantasma humano.

ð  Okàn – Alma, espírito, coração ou consciência – é entendida como aquela que possuí a função de alimentar a ação, o pensamento e a inteligência do homem.

ð  Èmí – Vida ou Respiração – reside nos pulmões, está associada ao espírito e a força vital que nos permite ações e movimentos; Èsù bara – Esu do corpo, por um determinado período, pois quando se esvai, o homem morre. Èmí é vista como o agente principal dos processos de Criação de todas as formas de vida do Universo e representa a continuidade através das mortes, dos nascimentos e renascimentos.

ð  Orí – Cabeça – é entendida como principal divindade do homem (Òrisá).  Forte e poderosa, nos acompanha durante toda existência, ajudando-nos e acompanhando-nos desde o nascimento até o dia da morte.  Traçando ou definindo o destino, pode facilitar ou complicar a realização dos nossos desejos.

 
Orí se subdivide em duas partes:
1.    Orí Odè – A cabeça física - é o crânio humano, onde está o cérebro, esta é a responsável pela organização dos pensamentos e controle das outras partes do corpo; consciente ou inconsciente; É uma guardiã atenta mesmo quando o indivíduo se encontra em estado de inconsciência, dormindo por exemplo. Conclui-se daí que o ser humano depende de sua cabeça para representá-lo dentro do macro-cosmo, pois os sonhos, “as vezes”, aparecem como avisos de sua Alma Guardiã no céu.
2.    Orí Inú - cabeça Interna ou espiritual – é a mais complexa, por conter as partículas Divinas deixadas dentro do homem e representar a origem ancestral da humanidade e não as origens de um indivíduo em particular; guardadas aí estão todas as informações sobre a Criação do homem.
2.1. APARÍ-INÚ - Parte interna da cabeça, é a Partícula Divina deixada no homem e aparece para possibilitar a ligação do Ser Criado com o Criador, Olódùnmarè, e com sua Mãe, pois Apári-Inú é o umbigo. Esta é a parte da Orí, cabeça, responsável pela formação do caráter do homem e, ao mesmo tempo, aparece como opositora deste mesmo caráter – apresentado como individual – para delimitar o livre-arbítrio e forçar o sujeito a usufruir dos seus erros e acertos e conquistar seu próprio espaço. Pois, o indivíduo pode nascer para o mundo com uma boa Orí, cabeça, porém, se o caráter não for compatível, o comportamento ruim pode estragar o destino.  Entretanto, quando há dificuldades que não forem causadas pela falta de bom comportamento da pessoa ou porque tenha sido influenciada por outra pessoa de caráter ruim a se comportar mal, isso pode ser mudado com alguns rituais, por não fazer parte do seu destino – as dificuldades aqui foram causadas.
2.2. ORÍ-ÀPÉRÉ – Cabeça Padrão – é a divindade interna do ser humano que descreve o padrão de sua individualidade e da sua responsabilidade no cumprimento do seu destino
             O ORÍ-ÀPÉRÉ Se divide em duas partes:
2.2.1.   ÀKÚNÈYÀN - é a parte da cabeça que, ajoelhados diante de Olórun, pegamos no Céu.  É uma parte do destino escolhido – livre-arbítrio – pela Alma Guardiã Ancestral na casa de Àjàlá, Oleiro do Céu, na ocasião que está se preparando para reencarnar na Terra, e define – o tempo de vida, as conquistas almejadas e a qual família terrena irá pertencer.  Ajoelhada diante Olórun, a esta Alma é oferecida a oportunidade de escolher o próprio destino. 
O destino determina se a pessoa será rica, feliz, gentil, sábia, popular, ou se pobre, impopular, desumana, extravagante, etc. Fixa o número de filhos e a ocupação que deve ter.
Se a pessoa aprende com rapidez um ofício ou executa uma tarefa melhor que o seu professor, todo mundo diz que suas habilidades provêm de Olórun como parte do destino que recebeu.  Do mesmo modo, se a pessoa é lerda e tem dificuldades para aprender um ofício, também dirão – provém de Olórun e que suas aflições não podem ser rastreadas, pois não há qualquer agente maligno.
Ninguém pode mudar o destino escolhido no Céu.  Entretanto, pode preservá-lo mediante atos de oferecimento aos Ancestrais Guardiões, Orí Ìpònrí, e a sua divindade pessoal, Orisá.  Também pode prejudicá-lo, quebrando os tabus, ewó, estabelecidos ou mediante a aplicação de medicinas negativas, õgùn, e feitiçaria, ofò ibi.
O papel do Oráculo de Ifá é somente o de aconselhar o indivíduo sobre aquilo que deverá fazer para que o seu destino não seja tão ruim quanto pode, diante das ações dos maldosos ou por negligência dele mesmo.  Pois, fazendo oferendas para a própria cabeça, assegurará todas as bênçãos a que fizer jus, mesmo que a pessoa não possua uma cabeça tão boa.
Ifá diz – “O destino pode ser modificado – quando há interferência – o caráter não pode ser modificado”. Pois, estabelecido como roteiro para a vida, pode trazer muitas bênçãos se seguido a fim de consumá-lo.  Bastando viver de modo a completar o período de vida previsto, oferecer orações, sacrifícios apropriados,  empregar medicinas protetoras e comportar-se corretamente em todos os sentidos – mais ninguém consegue tudo isso! É um jogo duro no qual a disputa com Deus e Deuses, o homem tenta igualar o comportamento de ambos num mundo onde não há anjos.
 
2.2.2.   ÀYANMÒ – Destino – apesar de ser o destino em si, é a parte da Orí, cabeça que não aceita rituais curativos ou preventivos.  Não aceita qualquer mudança.  É responsável pelo caráter interno e externo: sexo, aparência, pai, mãe, Karma, etc. As oferendas não mudam isso.

Bibliografias consultadas:
As Religiões Africanas no Brasil - Roger Bastide
Orí, A Divindade do Homem - O Segredo Revelado - Orlando J. Santos

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ORUNMILÁ- IFÁ, A DIVINDADE ORACULAR DOS YORUBAS

Por Ifá Korede Emerson Fernandes

A Religião Tradicional Yorubá, originária da Nigéria, Togo e República do Benin (África Ocidental), uma das raízes do Candomblé, da Umbanda e de outras práticas religiosas brasileiras, tem seu panteão de divindades constituído pelos Orixás e regido por Eledunmare, o Ser Supremo. Seu riquíssimo corpus literário, oralmente transmitido através das gerações, compõe um corpo teológico denso e coerente, mantido invisível em alguns países da diáspora, e uma liturgia bastante complexa.
 
Orunmilá, ou Ifá, a divindade oracular dos Yorubás, é respeitado por sua sabedoria. A palavra Orunmila, formada da contração de orun-l'o-mo-a-tila, “Somente o Céu conhece os meios de libertação”, resulta também da contração de orun-moola, “Somente o céu pode libertar”. A palavra Ifá tem por raiz fa, que significa “acumula”, “abraçar”, “conter”, indicando que todo o conhecimento tradicional Iorubá acha-se contido no Corpus Literário de Ifá, o Odu Corpus, conjunto de conhecimentos esotéricos e registros históricos dessa milenar tradição.

Eleri-ipin, testemunha (ou defensor) do destino humano, Ifá presencia o nascimento de todos os seres. Somente ele conhece o ipin ori, destino do ori (Essência Divina), e pode sondar o futuro e orientar quem o procura. Por isso é consultado nos momentos críticos da existência.

A palavra Orunmilá designa a divindade, enquanto a palavra Ifá designa, simultaneamente, a divindade e o sistema divinatório a ela associado. Para orientar os que o procuram, o sacerdote de Ifá, chamado Babalawo, pai do segredo, reporta-se ao Odu Corpus que, além de preservar a história dos Orixás, preserva também ensinamentos sobre curas com recursos naturais, razão pela qual deve conhecer, além da prática divinatória, o preparo de remédios.

ORUNMILÁ, PAI DO ORÁCULO SAGRADO
Por Eliane Haas

Orunmilá é o Orixá Senhor da sabedoria (ogbon) e do conhecimento (imo), que tendo adquirido o direito de viver entre o orun (o além) e o aiyê (o mundo material) , tudo sabe e tudo vê na totalidade dos mundos. Por isso recebeu o título de gbaiye gborun : aquele que vive tanto no céu como na terra, transcendendo espaço e tempo.
Como testemunha da criação universal é chamado também de elerii ipin e detém o conhecimento do passado, presente e futuro do destino de todos os habitantes do aiyê e do orun em todas as dimensões cósmicas.

Na Terra, Orunmilá é quem apresenta o destino ao reencarnante por ocasião da sua concepção (kadara) e, mediante aceitação pelo livre arbítrio individual, libera o indivíduo para o ( re-) nascimento. Conhece todos os destinos e como propiciar o sucesso em todos os âmbitos, alem de revelar o Orixá pessoal de cada um, ou seja, a substância da qual cada um foi extraído na atual existência e como integrar o indivíduo a este princípio Divino.
Como a religião yorubá é totalmente baseada em mitos (itan) que constituem a literatura de Ifá, conta-se que,
" após permanecer na Terra por algum tempo, Orunmilá retornou ao orun, esticando uma longa corda pela qual ascendeu. Os seres humanos ficaram totalmente desorientados. O caos, a fome e a peste imperaram na Terra, já que ele era o porta-voz da vontade de Olodumare - a Suprema Divindade Universal. O ciclo de fertilidade das plantas e animais foi interrompido, trazendo ameaça de extinção. O clamor pela sua volta não foi atendido, mas deixou com seus filhos os 16 ikin (coquinhos de dendezeiro) , que se transformaram num importante instrumento de adivinhação denominado "ikin". Entregou os ikin instruindo que sempre que desejassem as coisas boas e realizações positivas na vida, deveriam consultar os coquinhos. Daí nasceu o sistema oracular denominado Ifá, que auxilia o ser humano na resolução dos seus problemas cotidianos, nos conflitos e nas dúvidas existenciais, como mediador entre o humano e o divino. Assim, Orunmilá é considerado o Pai do Oráculo."
Uma modalidade oracular mais simples é o ibo e a mais popular das três é o opele ifa. Apenas sacerdotes iniciados no culto de Orunmilá - os Babalawos – são credenciados para utilizar esses oráculos.
Os oráculos são baseados no sistema binário e comportam 256 combinações matemáticas que definem os caminhos de Odu, com seus milhares de itan (mitos) e owe (parábolas). Sua missão foi organizar as relações humanas, ajudar na doença, orientar nas contendas de todo tipo de assunto, valendo-se para isto dos itan relatados pelos Odu.
Todo o corpo filosófico da religião yoruba se resume nesses signos de Ifá – os Odu , que por sua vez se subdividem em caminhos com os respectivos itan, que são mitos de instrução, orientação e aconselhamento.
O nome de Orunmilá e o do sistema oracular opelê ifá muitas vezes se confundem e o culto a Orunmilá passou a ser conhecido como Ifá. Já o oráculo merindilogun – o popular jogo de búzios – mediante interferência do Orixá Exu, pertence a Oxun e pode ser consultado por sacerdotisas. No jogo de búzios utilizam-se 16 kawri (búzios) no qual respondem os 16 odu principais, num total de 70 caminhos e os orixás que respondem através deles. Independente da modalidade utilizada, para cada caminho há um itan a ser interpretado.
Na tradição religiosa Yorubá, nada se empreende sem prévia consulta ao oráculo e todo procedimento ritualístico dele depende. Conforme informado anteriormente, o oráculo é a única opção autorizada e confiável quanto à definição do Orixá pessoal, responsável pela cabeça do ser humano.
 
 
Orunmilá é o interventor e defensor dos seres humanos, sempre tentando minorar os sofrimentos e dificuldades que enfrentam na saga das suas sucessivas existências na Terra.